Alex Uzueli, criador da Oficinalab, fala sobre a importância dos cursos de marcenaria para todos, a inclusão das mulheres na área e os desafios da profissão
Vídeos/Um excelente projeto pode surgir de uma simples ideia, de uma conversa, de um sonho, da vontade de fazer algo diferente, entre outros. Organizar e colocar a mão na massa são os ingredientes para dar esse pontapé.
No nosso Podcast Guararapes versão pocket, as Lumberjills entrevistaram Alex Uzueli, da Oficinalab, um projeto que se iniciou a partir da ideia de criar um curso de marcenaria a partir da criatividade e não a partir da técnica.
A Oficinalab nasceu a partir de um projeto anterior que se chamava LabMob, no qual um grupo de amigos desejava ter um ateliê para compartilhar conhecimento e para desenvolver seus projetos. Em um determinado dia, tiveram a ideia de pagar por um espaço e resolveram montar um curso de marcenaria.
A sacada desse projeto foi que não se precisava ter habilidade nenhuma no ramo, pois eles não queriam um curso a partir da técnica ou de ter que cumprir uma necessidade, mas que tivesse como combustível a criatividade. Simplesmente um curso de marcenaria criado para pessoas comuns, para os não-marceneiros, ou para marceneiros, também, por que não?
Alex é arquiteto de formação e explica que essa é uma visão deste profissional: pensar na parte criativa antes da técnica. Mas a ideia principal do Oficinalab foi se manter como um espaço onde as pessoas pudessem praticar a marcenaria. Na visão do idealizador, de nada adiantaria fazer um curso se a pessoa voltasse para casa e não tivesse como criar seus materiais por falta de espaço e de maquinário.
A marcenaria é um trabalho antigo, tradicional; é uma profissão milenar. No entanto, ela tem evoluído bastante, não apenas em relação à maneira como se trabalha, mas também na disponibilidade de materiais e maquinário. Os laboratórios e espaços de ensino são fundamentais para os profissionais acompanharem essa evolução, criando novas perspectivas a partir do uso desses materiais e de tudo que tem mudado.
Ao contrário do que muitos acham e dizem por aí, não é que o trabalho de marceneiro vá acabar, mas como tem bastante coisa acontecendo, as adaptações também precisam acontecer, assim como os questionamentos e a investigação desses novos materiais.
Falando em laboratórios, existir esses espaços nos quais é possível fazer experimentos com MDF e descobrir novos usos para ele é fantástico. Por exemplo: muitas pessoas que visitaram o espaço da Guararapes na Formóbile 2024 contribuíram com ideias novas para o uso do MDF ultraleve, lançamento mais recente da marca. Por isso, é fundamental ouvir o cliente, que é o principal usuário.
Alex gosta de pensar que "não existe material bom ou ruim. Existe material mal utilizado ou bem utilizado", pois cada material tem sua potência, durabilidade, eficiência, elegância e outras características que podem ser aplicadas a diversos projetos. Para o arquiteto, a questão principal é saber escolher o material adequado para cada necessidade.
Os cursos promovidos pela Oficinalab trabalhavam justamente essa questão de que todo mundo é capaz, de diferentes formas e jeitos: o foco principal é querer fazer, se movimentar e desejar fazer alguma coisa. "Se você vai virar um profissional, são caminhos mais longos que cabe a você decidir segui-los. E se não quiser se profissionalizar, também não é uma obrigação", afirma.
O diferencial da Oficinalab sempre foi não se pautar em determinadas técnicas, mas valorizar a vontade de fazer e a utilidade do que é feito: pensar, projetar, produzir e usar.
Quando Alex compara a Oficinalab com outras tantas boas escolas, ele evidencia que o desafio pedagógico é trazer para o aluno esse olhar a partir do desafio pessoal: "Quando o aluno projeta alguma coisa para ele, a conexão dele com o trabalho manual ganha uma outra profundidade. Então, não é sobre a melhor técnica, é sobre fazer alguma coisa para si, é sobre se expor. É sobre errar. É sobre conviver com os seus erros, com as suas dificuldades, com as suas potências".
Quando a Oficinalab foi criada, o desejo de ter um lugar diverso sempre foi genuíno, para fugir de um espaço visto como que exclusivamente masculino, onde a marcenaria era quase um segredo. Por isso, a escola sempre foi ser um lugar generoso, de investigação e diverso.
Alex acredita que "para o espaço ser diverso, também culturalmente e criativamente, ele também tem que ser diverso na sua composição. Qualquer laboratório, qualquer oficina tem que olhar para o mundo de uma forma diferente. E você só consegue isso com a diversidade".
Depois de quase 9 anos e mais de 4 mil alunos, em agosto, a Oficinalab pausou suas atividades presencialmente para uma reestruturação, mas são esperadas muitas novidades desse projeto único.